As obras de retrofit são uma tendência mundial, com vantagens econômicas, sociais e ambientais
Construir um empreendimento não se restringe a erguer um prédio sólido e que possa ser utilizado com segurança para a finalidade à qual se destina. Hoje, uma construção deve levar em conta a sustentabilidade e o legado que deixará para as futuras gerações. É por isso que as obras de retrofit estão se tornando cada vez mais uma tendência no mundo e, aos poucos, começam a crescer no Brasil. "O retrofit está diretamente ligado à sustentabilidade. Uma vez que adaptamos uma construção para que seja utilizada, ao invés de destruir para reconstruir, estamos preservando recursos do planeta", explica Márcia Ferrari, Head de desenvolvimento para a América Latina da Royal Institution of Chartered Surveyors (RICS), organização independente e sem fins lucrativas que congrega profissionais da setor do Real Estate, signatária do United Nations Global Compact (UNGC) cujos 10 princípios básicos incluem meio-ambiente, relações de trabalho, direitos humanos e anti-corrupção. "Vale salientar que o ambiente construído impacta diretamente no consciente e inconsciente individual e coletivo. Recuperar um edifício ou uma área da cidade traz memórias e outros benefícios intangíveis que, embora difíceis de mensurar, são fáceis de perceber, pois representa a renovação e, com ela, a esperança na vida que segue", afirma.
A opção pelo retrofit de uma edificação existente se dá por condições como: inexistência de áreas livres para edificar; perda de área útil no caso de demolição e reconstrução de um certo imóvel, em função de disposições atuais do plano diretor do município; edificação com partes tombadas pelos órgãos do patrimônio histórico; recuperação ou modificação do uso de imóvel existente em que ainda seja possível aproveitar parte substancial do mesmo. "É na etapa de Estudos de Viabilidade que se verifica se o aproveitamento de uma construção existente é viável ou não. Muitas vezes, devido a condições como as mencionadas acima, é a única alternativa para o desenvolvimento do empreendimento, mesmo levando-se em conta as dificuldades e limitações que normalmente são impostas no caso de um retrofit", afirma Carlos Miller, sócio-diretor da Planservice.
Uma das vantagens é que uma obra de retrofit pode ter custos consideravelmente inferiores em relação à uma construção totalmente nova. "Até onde minha experiência alcança, os custos do retrofit podem variar muito e se apresentar muito menores que os da construção nova - cerca de 1/4 - até níveis similares ou mesmo superiores, como no caso do restauro de patrimônio cultural", explica o arquiteto Milton Braga.
Na opinião de Miller, apesar do investimento elevado em alguns casos, a restauração de ativos imobiliários compensa o gasto com o aproveitamento de alguns sistemas da construção, como as fundações e a estrutura, o que acaba por tornar viável a sua implementação. "Em outros casos, a restauração pode ser a única alternativa de viabilização, como foi o caso do Museu da Língua Portuguesa que foi instalado no edifício administrativo da antiga Estação da Luz, em São Paulo. O mesmo vale para o caso do Shopping Cianê, em Sorocaba, uma vez que se tratava de imóvel tombado pelos órgãos de preservação histórica."
Além do Museu da Língua Portuguesa e do Shopping Cianê, a PLANSERVICE já atuou em retrofits como o Bossa Nova Mall & Prodigy Santos Dumont Hotel, no Rio de Janeiro e o SIDER Hotel Volta Redonda, na cidade do mesmo nome. "Estamos também atuando em um parque industrial já consolidado, que fica na Rodovia Presidente Dutra,onde estamos provendo serviços de Engenharia de Custos, e cujo escopo é a transformação de uma antiga unidade industrial de empresa multinacional em um Centro de Distribuição de Peças/ Suppliers Park para uma montadora de veículos que recentemente se instalou no Brasil", diz Miller.
Na opinião de Márcia Ferrari, imóveis bem localizados e com potencial de valorização através de retrofit são um chamariz natural para investidores atentos a essa oportunidade que, segundo ela, é vantajosa para todos os envolvidos. "As vantagens vão desde bons negócios pela valorização do imóvel para o investidor até recuperação da memória coletiva para usuários e comunidade de modo geral e, por fim, o meio ambiente agradece, afinal, recursos são preservados."