Na década de 1980, houve um movimento no Brasil para aplicação de ferramentas da Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management - TQM). Diversas empresas de construção começaram a desenvolver seus sistemas de gestão da qualidade, tanto para melhorar processos produtivos como também para obter a certificação ISO 9000. Apesar das melhorias, o TQM não atende completamente as necessidades de uma empresa da construção civil.
Na década de 1990, surgiu um novo referencial teórico para a gestão de processos na construção civil, visando a adaptar alguns conceitos e princípios gerais da área de Gestão da Produção às particularidades. Baseando-se na Produção Enxuta (Lean Production), criou-se a Construção Enxuta (Lean Construction). A construção enxuta se contrapõe ao conceito da produção em massa (Mass Production), que tem raízes no Taylorismo e Fordismo dos anos 1950.
É considerado como marco de início deste conceito o trabalho "Relatório Técnico nº. 72 - Application of the New Production Philosophy to Construction", do pesquisador finlandês Lauri Koskela, publicado em 1992 pelo CIFE - Center for Integrated Facility Engineering, ligado à Universidade de Stanford, EUA.
Com seu artigo, Koskela desafiou os profissionais da construção civil a quebrar seus paradigmas de gestão e adaptar as técnicas e ferramentas desenvolvidas com sucesso no Sistema Toyota de Produção (Lean Production), lançando assim as bases dessa nova filosofia por meio de adaptação dos conceitos de fluxo e geração de valor presentes no pensamento enxuto (Lean Thinking) à construção civil.
Dois professores e pesquisadores americanos, os engenheiros Gregory Howell e Glenn Ballard, utilizando como base o relatório de Koskela, realizaram a primeira reunião sobre Lean Construction na Finlândia, em 1993. No ano seguinte, foi formado um grupo mundial de pesquisadores sobre Lean Construction denominado IGLC (Internacional Group for Lean Construction), coordenado por Howell e Ballard, que anualmente se reúnem para discutir os avanços dos estudos.
Apesar de ser um conceito recente, a construção enxuta vem crescendo no Brasil nos últimos anos e já faz parte do dia a dia de diversas construtoras e profissionais.
Os princípios fundamentais para a gestão de processos na construção enxuta são:
1. Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor
A eficiência dos processos pode ser melhorada, e as perdas reduzidas, pela eliminação de algumas das atividades. Cabe salientar que a eliminação não deve ser levada ao extremo, pois algumas atividades que não agregam valor diretamente ao cliente agregam valor globalmente ao produto. Por exemplo: controle dimensional, treinamento da mão-de-obra.
2. Aumentar o valor do produto pela consideração das necessidades dos clientes
As necessidades dos clientes internos e externos devem ser identificadas claramente e consideradas no projeto do produto e na gestão da produção. Ao executar o mapeamento do processo, identifica-se sistematicamente os clientes e seus requisitos para cada estágio.
3. Reduzir a variabilidade
Reduzir os diversos tipos de variabilidade envolvidos num processo de produção:
(a) Variabilidade nos processos anteriores (etapa anterior ou fornecedor)
(b) Variabilidade no próprio processo (etapa em execução)
(c) Variabilidade na demanda (desejos e necessidades dos clientes)
4. Reduzir o tempo de ciclo
Princípio que tem origem na filosofia Just in Time. O tempo de ciclo é a soma de todos os tempos (transporte, espera, processamento e inspeção) para produzir um determinado produto.
5. Simplificar, reduzindo o número de passos ou partes
Frequentemente utilizado no desenvolvimento de sistemas construtivos racionalizados: quanto maior o número de componentes ou de passos num processo, maior tende a ser o número de atividades que não agregam valor.
6. Aumentar a flexibilidade de saída
Possibilidade de alterar as características dos produtos entregues aos clientes sem aumentar substancialmente os custos dos mesmos. Embora este princípio pareça contraditório com o aumento da eficiência, muitas indústrias têm alcançado flexibilidade mantendo níveis elevados de produtividade.
7. Aumentar a transparência do processo
Quanto mais transparente o processo, mais fácil será a identificação dos erros no sistema de produção, o que aumenta a disponibilidade de informações para a execução das tarefas. Desta forma, também aumenta o envolvimento da mão-de-obra no desenvolvimento de melhorias.